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domingo, 14 de novembro de 2010


                                                        
Texto semifinalista da Olimpíada Brasileira de Língua Portuguesa; Gênero Memórias Literárias
Escola Municipal de Ensino Fundamental Osvaldo Aranha
Professora Izabel Ávila Rodrigues
Aluna Camila Brushosh da Silveira
7ª Série/Turma 71


                                                 Passado e presente: elos do futuro


          Meu pai achou muito estranho quando eu disse que queria entrevistá-lo. Fez uma cara de espanto, e foi perguntando: “O que será que tem por trás disso? Ou será que virei celebridade e não estou sabendo...?” Logo abriu aquele sorriso largo e bonachão, me abraçou forte e ficou ouvindo minhas explicações sobre o motivo da entrevista. Ficou todo orgulhoso e a conversa enveredou por caminhos que nem eu imaginava. Bom de conversa, como ele só, contou várias histórias da sua infância e juventude. Contou tantas, que tive de fazer uma seleção, pois não daria para escrever todas aqui.Ele começou assim...

         “ Comecei a estudar quando completei seis anos. Era uma escola muito pequena, mas acolhedora. Tinha apenas duas salas de aula, com as paredes branquinhas como algodão e janelas azuis, que pareciam um pedacinho do céu que insistia em entrar nas aulas. Não tinha banheiro, só patentes. As professoras explicavam bem os conteúdos, faziam cobranças severas e eram muito rígidas, os tempos eram outros...Se nós, os alunos, incomodássemos logo éramos pegos pelas orelhas, ou a régua corria frouxa pelos nossos dedos. Contando agora, chego a sentir a dor que muitas vezes senti em meus dedos e em minhas orelhas, já que eu não era um aluno dos mais exemplares. Gostava de provocar uma baguncinha entre os colegas, além de fugir pelo buraco da tela que cercava a escola.

           Morava com minha família neste mesmo bairro em que moramos ainda hoje, filha, só que daquele tempo para cá muita coisa mudou tanto no bairro, quanto na minha vida.

          Nossa casa, como a maioria das casas do bairro, era um chalé. Apesar de serem todas quase iguais, eu achava a minha a mais bonita de todas. Meus pais, apesar da dificuldades da época, sempre foram muito caprichosos. Mantinham o chalé sempre bem conservado. As parede de madeira, pintadas de verde escuro como a mata, venezianas marrons e vidraças sempre limpas nos davam resguardo nos dias frios e chuvosos. Lembro que eu e meus irmãos gostávamos de ficar olhando a chuva bater nos vidros das janelas, formando desenhos que só nós víamos.

          A mobília, muito simples, era toda feita em madeira muito bem lixada e pintada. Sobre cada mesinha, minha mãe colocava guardanapos cuidadosamente bordados por ela e com biquinhos de crochê. Na sala havia uma grande cristaleira – móvel antigo, do tempo que não havia armários embutidos – feita em madeira maciça e portas de vidro. Ali minha mãe guardava objetos de estimação como taças, bibelôs, lembranças de casamento ou aniversário, tudo de uma forma muito organizada. E o melhor: longe do perigo das mãozinhas curiosas das crianças, pois a portas eram fechadas à chave, sem falar que também ficam protegidos da poeira.

        O fogão à lenha na cozinha tinha muita utilidade. Nas noites de inverno, ficávamos todos reunidos ali por perto, protegidos pelo calor que a madeira crepitante exalava pelo casa. Além disso, era nele que minha mãe preparava aquela comida gostosa, que só ela sabia fazer.

         Logo depois do jantar o ritual era sempre o mesmo. Minha mãe preparava as camas, separava nossos pijamas de flanela, nos acompanhava até o quarto, dava um beijo em cada um e íamos deitar. Fícavamos ainda um tempo conversando baixinho, contando as peripécias do dia, até que papai gritava lá do seu quarto: ‘Hora de dormir!’. Fechámos a boca, nos acomodávamos confortavelmente sobre o colchão de palhas, nos enroscávamos no acolchoado de penas, que parecia nos abraçar suave e calorosamente e em poucos segundos adormecíamos.

         Claro que nestes tempos modernos, ninguém mais dorme numa cama como aquela do meu tempo de criança. Os colchões de hoje são comprados prontos, muito diferentes daqueles de palha, feitos em casa. As cobertas de pena foram substituídas pelos edredons. Mas bem que tenho uma saudade danada daquele tempo!

         E as brincadeiras então? Como eram divertidas! Não tínhamos os brinquedos modernos de hoje, mas inventávamos mil coisas...pega-pega, jogo de bolica, esconde-esconde, pula-sapata, carrinhos feitos com latas de óleo, bola de meia...Tudo servia de brinquedo. Era muito bom...Hoje as crianças têm todo tipo de brinquedo, mas não sabem brincar. Mais brigam do que brincam...

        Com dezesseis anos comecei a namorar. Um namoro arranjado, pelo irmão dela que namorava minha irmã. Os dois inventavam mil coisas para fazer com a gente se encontrasse. Tanto inventaram que acabamos nos encontrando, namorando, casando. Graças a Deus foi – e continua sendo – um casamento feliz, do qual você nasceu, minha filha.

        Sou um homem feliz. Tenho uma família maravilhosa, que sustento com meu trabalho honrado de pedreiro, e muitas recordações boas dos meus tempos de criança e adolescência. Espero que um dia você também tenha muitas histórias felizes para contar aos seus filhos.”

       Eu e meu pai ficamos um tempo em silêncio, apenas nos olhando nos olhos. Foi um momento mágico: o que a princípio era apenas um trabalho da escola transformou-se em um elo entre o passado vivido por ele, suas histórias de vida e minha história atual. Com certeza, este elo jamais se romperá. Estamos mais unidos do que nunca e eu o admiro cada vez mais. Para mim, ele é uma celebridade!



        Camila Brushosh da Silveira – 13 anos

        7ª série/ 71

        Texto baseado na entrevista realizada com Ronaldo Cardoso da Silveira, 39 anos, pedreiro.

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